A primeira mesa da 27ª Conferência Nacional dos Bancários, realizada na manhã deste sábado (23), contou com a presença do historiador e professor de Literatura Comparada, João Cezar de Castro Rocha, para debater os rumos da democracia e da soberania brasileira.
O encontro, que está sendo realizado em São Paulo, de 22 a 24 de agosto, reúne delegados e delegadas de todo o País para discutir não apenas as pautas da categoria, mas também temas importantes, como a atuação da extrema direita, o combate ao fascismo e a construção de um Brasil soberano.
“É essencial refletirmos sobre como vamos defender a soberania e fortalecer a democracia brasileira, sobretudo nesse momento complexo, marcado por uma disputa acirrada com a extrema direita e pelos ataques do imperialismo norte-americano”, iniciou Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas do Ramo Financeiro de São Paulo, Osasco e Região e coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, ao coordenar à mesa de debates.
Em sua fala, João Cezar de Castro Rocha fez uma análise da conjuntura histórica e política, relacionando a formação estrutural de privilégios no Brasil, as novas táticas da extrema direita transnacional e a necessidade de vigilância permanente para evitar retrocessos. Segundo ele, o Senado será o campo estratégico em disputa nas eleições brasileiras de 2026. “O projeto da extrema direita é concentrar as forças no Senado. Porque se tiver maioria ali, a porta estará aberta para os retrocessos”, alertou.
A máquina de permanência de privilégios
Antes de tratar da conjuntura atual, o professor fez um resgate da formação histórica do País. Para ele, a democracia brasileira sempre conviveu com contradições profundas, pois o Estado foi moldado para preservar privilégios. “Todo o Estado brasileiro foi montado como uma máquina de permanência de privilégios. Não é apenas a estrutura tributária regressiva, mas também o sistema judicial e o modelo de inflação que multiplica recursos para os mais ricos e nega acesso real à justiça para os pobres”, afirmou.
Nesse cenário, apenas uma instituição nasceu com a missão de proteger os trabalhadores: a Justiça do Trabalho e a consequente organização sindical. “É a única instância que foi criada em defesa do trabalhador e, por isso, mesmo vem sendo desmontada, tijolo a tijolo, desde o golpe de 2016”, destacou. “Desde as reformas do Michel Temer, tudo é feito para que os sindicatos sejam cada vez menos importantes e representativos.”, lembrou.
A normalização do absurdo
Ao utilizar como exemplo os personagens vilões de Shakespeare – Iago (Otelo) e Ricardo III – Rocha mostrou como a extrema direita deixou de utilizar ações dos vilões clássicos e absolutos, para se inspirar no “vilão ostentação”, que tem como principal estratégia a construção de narrativas marcadas pela retórica do ódio e pela criação de inimigos imaginários. “Com isso, o nosso maior desafio é enfrentar a normalização do absurdo. É aceitar como natural o que deveria ser considerado inaceitável. Essa guerra cultural é a força da extrema direita atual!”, alertou.
Segundo ele, essa capacidade de transformar a exceção em rotina alimenta a “cultura do ódio” e conquista corações e mentes, sobretudo das novas gerações, por meio das redes sociais e das fake news. “Nunca na nossa história houve a normalização do absurdo como ocorre hoje. E a extrema direita depende dessa normalização”, acrescentou.
O plano da extrema direita
Ainda nas palavras do professor, a extrema direita transnacional sabe que o Brasil é um país com enorme potencial – é a oitava maior economia do mundo e um dos cinco maiores países em população e dimensão geográfica – e, por isso, tem um plano: “mantê-lo apenas como um país bem-sucedido, mas nunca permitir que se torne, de fato, uma nação soberana, fraterna e solidária”, apontou. E, para isso, a extrema direita tem um plano, um roteiro já utilizado em outros países para chegar e se manter no poder.
“Esse plano é conquistar o Senado. Porque a extrema direita só se manteve no poder em países em que ela subjugou a Suprema Corte. É somente intervindo no Judiciário que será possível fazer impeachment de ministros como Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Ou seja, se eles conquistarem maioria no Senado, a ditadura principia”, explicou. Ele também mencionou o papel de potências estrangeiras em diversas tentativas de golpe. “Por isso, o desafio é compreender que nossa luta pela democracia é também luta pela soberania”, destacou.
Defender a soberania e a aprofundar a democracia
Diante dessa conjuntura, o historiador ressaltou a necessidade de atenção à eleição de senadores em 2026. “Precisamos concentrar nossas energias no Senado, para que tenhamos candidatos competitivos e que sejam eleitos em todos os estados. Não basta reeleger Lula! Se perdemos o Senado, não teremos uma nação”, orientou. “Pois é preciso lembrar que a extrema direita não tem projeto de nação, só tem retórica do ódio. E isso não paga aluguel, não põe comida no prato”, acrescentou.
Por fim, Rocha concluiu que é preciso aprofundar a democracia brasileira para além da formalidade. “A democracia formal é muito importante, mas nós temos que defender que um outro tipo de democracia é preciso: a democracia enquanto acesso a direitos. E esse tipo o povo brasileiro nunca experimentou de fato”, disse. “No dia em que o povo brasileiro souber que a democracia é também o acesso fundamental a um conjunto indispensável de direitos, a extrema direita será apenas uma memória triste do passado”, encerrou.
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