Manter o penhor exclusivo na Caixa é zelar pela dignidade dos brasileiros
A exclusividade da Caixa neste serviço foi estabelecida há 88 anos. É uma das operações mais baratas e voltada a pessoas que passam por dificuldades financeiras, que estão "negativas" e não têm outras garantias a apresentar
Data: 18/05/2022 às 15:19
Fonte: Fenae

*Por Sergio Takemoto

Deputados federais devem votar, esta semana, o que pode ser classificado como um dos maiores retrocessos na concessão de empréstimo a juro baixo para quem precisa de dinheiro rápido e sem burocracia: o penhor da Caixa Econômica Federal. Projeto de Lei 4.188/2021, apresentado pelo governo, acaba com o monopólio do banco público nesta operação de crédito, oferecido pela Caixa desde 1934, com uma das menores taxas e a possibilidade de recuperação do bem penhorado e avaliado de forma justa.

Se aprovado, o PL representará não só prejuízos à população, com a volta das casas privadas de penhor — também conhecidas como “prego”, que cobravam juros muito superiores para a concessão de empréstimos — como também significará mais uma ação do governo de enfraquecimento do papel social da Caixa.

Enquete da Câmara dos Deputados mostra que quase 80% dos participantes da pesquisa discordam totalmente do Projeto de Lei 4.188. Apesar disso, a Casa tentou, no início deste mês, votar o PL em regime de urgência. O projeto — que institui o chamado “marco legal para o uso de garantias destinadas à obtenção de crédito no país” — só não foi apreciado graças ao empenho da deputada [e bancária da Caixa] Erika Kokay (PT-DF).

A parlamentar conseguiu que o projeto de lei fosse retirado de pauta para que o fim do monopólio da Caixa no penhor civil seja excluído da proposição. Kokay reforçou que o PL enfraquece a atuação social do banco público, além de destacar a capacidade técnica dos avaliadores de penhor da Caixa Econômica Federal: “altamente gabaritados” para assegurar preço justo pelas peças penhoradas, ausência de burocracia e juros menores nos empréstimos.

A exclusividade da Caixa neste serviço foi estabelecida há 88 anos pelo Decreto 24.427. É uma das operações mais baratas, voltada a pessoas que passam por dificuldades financeiras, estão "negativas" e não têm outras garantias a apresentar e, por isso, decidem penhorar bens que não querem se desfazer deles. São objetos de alto valor afetivo, herdadas de antepassados, desde joias a relógios e canetas, por exemplo. Com a quitação do empréstimo a juros mais baixos, as peças retornam aos herdeiros.

Ou seja: ao oferecer menores taxas para a concessão deste tipo de empréstimo facilitado a quem mais necessita e sem extorsão, o penhor é uma operação que se alinha ao papel social da Caixa.

O monopólio do banco público nesta operação, aliás, ocorreu por conta de abusos cometidos pelas casas de penhor. Se recorrermos aos fatos históricos, lembraremos que pessoas escravizadas compravam a carta de alforria por meio de empréstimos de penhor junto à Caixa, o banco do povo brasileiro.

A volta dos “pregos” estimulará os empréstimos predatórios, praticados, por exemplo, por agiotas: cobrança de juros altos a quem está endividado e sem acesso a garantias para outros tipos de crédito. Será mais um combustível para a exploração de quem mais necessita, em um país cujo poder de compra e oportunidades de vida vêm minguando dia após dia.

Esta é mais uma manobra do governo para favorecer a iniciativa privada em detrimento dos interesses da população brasileira. Ao passar o penhor para empresas privadas, os lucros delas serão ampliados às custas de taxas de juros maiores. Perdem os brasileiros, perde a Caixa.

O PL 4.188 é, portanto, um claro desrespeito não só à história da Caixa Econômica Federal e aos empregados do banco público mas, também, ao Brasil.

*Sergio Takemoto é presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)

(Esse artigo foi publicado originalmente na Fórum no dia 16 de maio de 2022).

Outras notícias

(16) 3336-6700 / 3335-6333 / 3331-3771

Rua Pedro Álvares Cabral, 1902 - Centro CEP: 14801-390 - Araraquara - SP

  • Siga-nos nas redes sociais:

2020 - www.bancariosararaquara.org.br - Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por: Connect Core