O Relatório Focus, divulgado todas as segundas-feiras pelo Banco Central (BC), indicou na última publicação que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% nas próximas duas reuniões previstas para este mês e agosto.
O Focus é elaborado a partir de pesquisas diárias com cerca de 140 instituições financeiras, bancos e agentes econômicos. “Então, o que isso significa? Que o Banco Central considera apenas um grupo restrito, do sistema financeiro, para estabelecer sua política monetária, mas não considera o setor produtivo, os níveis de emprego, os níveis de endividamento e as condições de vida da população”, observa a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira. “Em outras palavras, estamos dando poder a um grupo de pessoas, patrocinadas pelo sistema financeiro, de decidir se o Brasil cresce ou continua com a economia estagnada”, completa.
“Com a taxa básica de juros neste patamar, descontado o custo da inflação, o Brasil segue com o maior nível de juro real do mundo, em torno de 7%, e isso afeta negativamente a economia e a geração de emprego no país”, explica o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan.
O principal argumento do BC para manter a Selic no patamar elevado é a necessidade de controlar a inflação que, segundo o presidente da entidade, Roberto Campos Neto, tem como raiz principal mais a demanda e menos a oferta. Por outro lado, os últimos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram desaceleração da inflação no país. A política de redução no preço de combustíveis, aplicada mais recentemente pelo governo federal, também tem reduzido as projeções para a inflação em 2023.
“Temos que lembrar que, no ano passado, nos meses de julho, agosto e setembro, o país registrou deflação. Naquele período houve queda nos preços da gasolina e da energia, também por decisão de governo. Isso mostra, portanto, que a inflação do Brasil, nesse período recente, não é por demanda. Até porque, os juros elevadíssimos dificultam os gastos e aumentam o endividamento das famílias e do setor produtivo, porque encarece o crédito”, destaca o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.
Entre janeiro de 2021 e setembro de 2022, o Banco Central elevou a Selic de 2% para 13,75% ao ano – percentual mantido até o momento e que significa uma elevação de quase sete vezes. Entre janeiro de 2021 e abril de 2023, a taxa média de juros para pessoa física passou de 39,4% para 59,7% ao ano, enquanto a taxa de juros média para pessoa jurídica sofreu elevação de 15,2% para 23,9% ao ano, considerando o crédito livre.
Efeitos perversos da Selic
O efeito mais perverso dos juros em patamares elevados é sobre o crescimento e o emprego. “Os custos para investir na produção e expandir operações são muito caros no Brasil, prejudicando diretamente o crescimento econômico e, portanto, a geração e manutenção de empregos”, ressalta Juvandia Moreira. “Os juros reais em patamares altos favorecem apenas a especulação no mercado financeiro, que beneficia parcela muito pequena da população. Vivemos em um país muito desigual, onde a maior parte é pobre e não tem nem poupança, que dirá títulos da dívida pública e investimentos no mercado financeiro. E é essa grande parcela que está submetida aos piores efeitos dos juros altos”, completa.
Em abril deste ano, a parcela das famílias brasileiras com dívidas (em atraso ou não) chegou a 78,3%, como mostra o estudo “Desempenho dos bancos 2022”, elaborado pelo Dieese. O mesmo trabalho aponta que as famílias inadimplentes de todas as classes sociais chegam ao índice de 29,1%, abaixo dos 29,4% de março, mas acima dos 28,6% de abril de 2022. Um outro levantamento, recomendado pela Exame Invest e publicado em abril, mostra que o número de pedidos de recuperação judicial de empresas no Brasil é o maior em cinco anos.
“A política de juros altos de Campos Neto [presidente do Banco Central] diminui o emprego, empobrece o país e prejudica o povo brasileiro. Se nós não temos inflação de oferta, onde está a demanda? Também é função do BC incentivar a criação de emprego. Mas parece que a única missão da entidade é beneficiar o rentismo, em prejuízo do desenvolvimento e aprofundando as desigualdades sociais no país”, critica Juvandia Moreira. “Vamos continuar fazendo nossa parte, como movimento sindical, de pressionar pela queda da Selic. A população já entende que os juros abusivos prejudicam a todos nós”, arremata a dirigente se referindo à pesquisa divulgada pelo Datafolha no início de abril e que mostrou que 80% concordam com a pressão que o presidente Lula (PT) faz ao Banco Central pela redução da taxa básica de juros.
Brasil sai do Mapa da Fome da ONU
Movimento sindical bancário leva à Alesp debate sobre saúde mental da categoria
Trabalhadores cobram e bancos aceitam criar mesa permanente de negociações sobre IA
O que acontece se a meta atuarial for ultrapassada?
1º de agosto é dia de ir às ruas defender nossa soberania
Operadora chinesa de cartões vai atuar no Brasil, diz site; entenda!
Afastamentos por transtornos mentais nos bancos crescem 168% em 10 anos
Retirada de Patrocínio no Banesprev: respostas para perguntas frequentes
Representação dos empregados envia ofício questionando se recente mudança estatutária apurada pelo Valor debateu teto de custeio do Saúde Caixa
Institucional
Diretoria
História
Conteúdo
Acordos coletivos
Galeria
Notícias