Nos primeiros nove meses de 2024, o Santander Brasil obteve um lucro líquido gerencial de R$ 10 bilhões, aumento de 40,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento expressivo no lucro ocorre enquanto o banco continua a fechar postos de trabalho e reduzir sua presença física, uma realidade que afeta diretamente seus funcionários e clientes.
O lucro trimestral do banco alcançou R$ 3,7 bilhões, 10% superior ao trimestre anterior, e o retorno sobre o patrimônio (ROE) subiu para 17%, um aumento de 3,9 pontos percentuais em doze meses. Já o lucro global do Santander, que atingiu € 9,3 bilhões, registrou alta de 14,3% no mesmo período. Em termos de representatividade, o lucro da unidade brasileira compõe 19% do resultado global do banco, evidenciando a importância do mercado brasileiro para a instituição.
Em contrapartida ao crescimento no lucro, o Santander fechou 706 postos de trabalho nos últimos doze meses, sendo 568 apenas no terceiro trimestre de 2024. Esse movimento acontece em um cenário de aumento da base de clientes, que somou 68,8 milhões de pessoas em setembro, com 3,4 milhões de novos clientes em relação ao ano anterior. Além disso, o banco também fechou 254 lojas e 128 Postos de Atendimento Bancário (PABs) no mesmo período, o que reflete um direcionamento para reduzir o atendimento físico, afetando a presença do banco em várias regiões.
De acordo com os dados do Banco Central, o Santander contava com 2.459 agências físicas em setembro de 2024, uma queda significativa de 78 unidades em relação ao ano anterior. “Esse cenário preocupa, pois a redução na estrutura física não só afeta o atendimento ao cliente como também intensifica a sobrecarga sobre os funcionários, os quais enfrentam a pressão de atender um número crescente de clientes com menos recursos e apoio presencial”, avaliou Wanessa Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander.
“Apesar do Brasil responder pela maior parcela do lucro global do Grupo Santander, o banco espanhol não dá o devido retorno à sociedade brasileira, principalmente no caso de uma empresa que opera no país na forma de uma concessão pública”, reforça o diretor do Sindicato dos Bancários de Araraquara e região, Paulo Vicente Fernandes.
O diretor destaca que, apesar do lucro exorbitante do Santander ser construído pelo esforço e dedicação dos seus funcionários, são estes trabalhadores os que menos usufruem deste resultado. “O lucro do banco traz o carimbo do adoecimento do bancário, das demissões, da sobrecarga de trabalho, do assédio moral, da cobrança abusiva por metas e da terceirização, que na prática significa redução de direitos”, denuncia.
Enquanto o banco aumenta suas receitas com serviços e tarifas bancárias – que somaram R$ 16,7 bilhões, com crescimento de 13,2% em um ano – as despesas de pessoal e PLR aumentaram apenas 8,7% no mesmo período, atingindo R$ 9,1 bilhões. A cobertura dessas despesas com as receitas secundárias do banco foi de 184,2%, um índice que demonstra a lucratividade do banco frente aos custos com pessoal.
Para a secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT e funcionária do Santander, Rita Berlofa, este cenário levanta questões sobre as prioridades do Santander. “Enquanto seus lucros crescem de maneira expressiva, os cortes de empregos e a redução de agências sugerem uma estratégia focada em maximizar o retorno para os acionistas, muitas vezes em detrimento dos trabalhadores e clientes. A pressão sobre os funcionários que permanecem é evidente, e a falta de estrutura para o atendimento ao cliente pode refletir negativamente na qualidade dos serviços prestados”.
Ela ainda criticou o grande número de terceirizações que o Santander tem feito nos últimos anos. “Na verdade, são terceirizações travestidas de contratações fraudulentas, já são reconhecidas pelo Ministério Público do Trabalho. Quando um cliente opta por um banco, ele opta por uma instituição e não por um grupo de CNPJs, que é o que o Santander está se tornando. Isso precisa acabar!”
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